MANÉZINHO BOM DE BOLA

O ILHÉU SEMPRE FOI APAIXONADO PELO FUTEBOL. AQUI NA CATEGORIA MANEZINHO BOM DE BOLA, VEJA UM POUCO DESTA PAIXÃO.
CONHEÇA A GALERA FOMINHA DE BOLA, EM VARIOS PONTOS DA ILHA: NO LIC, NA FAC, NA CACHOEIRA DO BOM JESUS, NO COLEGIO CATARINENSE, NO ADOLFO KONDER E EM MUITOS CAMPOS DA ILHA ONDE "DE REPENTE TU ATÉ JA BATESSE UMA BOLINHA, NÃO TEM? O MAIOR "MANÉZINHO BOM DE BOLA" QUE CONHECI FOI MEU PAI, CARLOS ALBERTO BORGES, CONHECIDO POR MUITOS POR PARRUDO OU SIMPLESMENTE BORGES. QUEM O VIU JOGAR, SABE QUE NÃO ESTOU MENTINDO.
ALEM DE BRILHAR NOS GRAMADOS DA ILHA E SEUS ARREDORES, FEZ HISTORIA TAMBEM NO FUTEBOL DE SALÃO COM O CLUBE DO CUPIDO, CONQUISTANDO O BI-CAMPEONATO ESTADUAL E CITADINO NO COMEÇO DA DECADA DE 70. PARA SABER MAIS SOBRE O CLUBE DO CUPIDO E SEUS TITULOS CLIQUE AQUI.
VEJA ABAIXO, DUAS HISTORIAS CONTADAS PELO AMIGO DE MEU PAI, ROBERTO COSTA E QUE FORAM JA FORAM PUBLICADAS NO BLOG DO ANDRE TARNOWSKY,

HISTORIA No 1:

Existe um futebol, não menos excitante que o profissional, que apenas de passagem recebe alguma referência na mídia, uma foto amarelada num canto de página, uma menção saudosa cobrindo falta de notícia melhor na coluna esportiva de alguém. É o futebol da várzea, ou dos fominhas da bola, dos craques frustrados, galeria dos quais com muito prazer fiz parte. Nesse tempo de entressafra do futebol profissional, é justo recorrermos a ele.

Há sempre, nesse meio varzeano, aqueles que se destacam com natural vocação para cartolas, ou presidentes. São os que tomam a si a responsabilidade da organização. Gerenciam a lavação das camisas e as conduzem ao local dos jogos, agenciam esses jogos, convocam os atletas, escalam a equipe.

O dentista Carlos Alberto Borges, avaiano, já falecido, mais conhecido como Borges, tinha esse perfil. Gerenciava o Acadêmicos, time que organizara, composto de estudantes universitários, do qual fiz parte, e que, como conquista maior registra um empate em 3 a 3, em jogo treino no "Campo da Liga", contra os profissionais do Avaí.

Pois aconteceu, década de sessenta, que o Borges contratou jogo contra os funcionários do Hospital Santa Tereza, casa especializada no tratamento da Hanseníase, doença popularmente conhecida como lepra.

Como garantia da saúde dos atletas sob seu comando, Borges fez incluir cláusula específica no acordo não formalizado, de cavalheiros, de que o seu adversário sob nenhuma hipótese faria incluir no jogo algum doente do Hospital. Selado o acordo com um aperto de mão, no dia e hora marcados fomos para o jogo, a realizar-se no campo do próprio hospital.

Deram-nos um vestiário onde se viam pelo chão resquícios preocupantes de pó de cal, mas nada que pudesse anular nossa fome de bola, nosso ânimo de correr os noventa preciosos minutos.

Fomos para o aquecimento no gramado, durante o qual vimos adentrar o time da casa e, fazendo-nos tremer dos pés à cabeça, de preocupação e indignação pela ruptura do acordo, o primeiro da fila, de notável porte físico, ostentava expressiva mancha escura na face esquerda, a qual alongava-se pescoço abaixo, perdendo-se por sob a camisa até lugar incerto e não sabido da anatomia do gigante. De nada valeram as reclamações, as ameaças de não jogar, as críticas ao descaso com os princípios éticos. "É doente curado, remido do mal" e, com essa afirmativa, o representante do adversário impôs a sua presença no jogo, atitude de fazer inveja a qualquer dotô mandatário de federação.

É claro que a fome de bola preponderou. Entramos a jogar e, já por volta de cinco minutos de jogo, Borges, iniciando arrancada pelo meio de campo, aplicou drible sobre ninguém menos que o gigante da mancha, que optou por matar a jogada, agarrando nosso herói firmemente pelo pescoço, jogando-o ao chão e caindo por sobre ele.

Pelo menos por uns dez dias compartilhei, na condição de vizinho, dos temores do Borges com relação aos perigos da temível doença. Felizmente, nada além de uma aventura da bola, nada além de preocupações, nada que o tempo não resolvesse, como de fato resolveu.

HISTORIA No 2

Presaulino estudou engenharia na UFSC, o que o credenciou a fazer parte do time Acadêmicos, gerenciado pelo Borges, personagem da anterior Aventura da Bola.

Presaulino não esquentava a cabeça, pelo menos aparentemente e, como o coração de Pascal, costumava ter razões que a própria razão desconhece. Era o que se denominaria hoje, um figuraço.

Era robusto, mas não um atleta na verdadeira acepção da palavra, tal o seu amor pelo sereno. Jogasse no Avaí em 2014, por certo estaria no time de Bocão, Diego Felipe, Abuda e outros manjados, para nosso desespero. Mas, para os padrões da várzea, era um leão.

Certa feita, num domingo, programado um jogo difícil para o campo da Terceira Turma do Abrigo de Menores (hoje imediações do Direto do Campo, na Agronômica) às nove da manhã, ali compareceram todos, menos o Presaulino, para desespero do Borges. A irresponsabilidade desse "atleta" foi realçada por todos em altos brados e Borges, exasperado, concluiu que deveria exclui-lo do time. Ninguém deixava por menos, não era a primeira vez e o veredicto foi de que o relapso contumaz deveria realmente ser expurgado para sempre.

Quem viveu essa era Abrigo de Menores, sabe que por volta dos campos, como moscas oportunistas, havia sempre um ou outro craque de plantão rondando, com chuteira na mão, à espera de uma vaga num time desfalcado, de um encaixe, para bater a sua bolinha. Assim, com um desses providenciais anônimos, completamos o time. 

E o jogo começou encardido, o adversário mostrando desde cedo que não viera para brincadeira, e logo tomamos um gol. Calculo que foi por volta dos trinta e cinco do primeiro tempo que Presaulino surgiu à margem do campo, cara de mau dormido, trajando calça esporte, camisa e sapatos. E ouviu de nós todos, todos os xingamentos possíveis e imagináveis. E a única resposta que deu, com naturalidade, foi: "Porra, fui a um baile e esqueci do jogo."

Passara a noite em claro, bebera a sua cota, mas ali estava e queria jogar. O craque de plantão gentilmente cedeu-lhe a vaga e a chuteira, mas esta não lhe coube no pé. Finalmente, conseguiu-se um calção e Presaulino encarou o segundo tempo de jogo e a grama seca e rala do campo da Terceira Turma com os pés descalços, no meio dos adversários, todos calçados com suas chuteiras Gaeta, certamente. 

E Presaulino, o irresponsável, correu e mostrou raça, e com os pés nus dividiu todas como um leão, e para calar-nos as bocas a todos, com dois chutes de fora da área virou a nosso favor o jogo que estava duríssimo e saímos vencedores. 

No ônibus, em retorno, ele se manteve em silêncio, não se pavoneou do feito, mas deve ter curtido com muito carinho o ar aparvalhado que impôs a todas as nossas caras.

E A FAMA DOS MANEZINHOS EXTRAPOLOU OS LIMITES DA ILHA.
EM 1968, SEGUNDO NOSSO AMIGO FAUSTO SILVA(FAFAU), A SELEÇÃO CATARINENSE DE FUTEBOL DE SALÃO, COMPOSTA POR FLORIANOPOLITANOS, FOI VICE CAMPEÃ DO TORNEIO ORLANDO ZANCANER EM SÃO JOSE DOS CAMPOS-SP.
FORAM DUAS VITORIAS CONTRA SÃO PAULO(3X1) E GUANABARA(5X2) E UMA DERROTA PARA BRASILIA(1X2).
VAMOS A ESCALAÇÃO:
EM PÉ: BIASOTTO, FAUSTO SILVA, ACIOLI, FRANZ, BETO E OSVAL KLINGER(TECNICO).
AGACHADOS: MELIN, PAULO DUARTE, TAMINO, LAURI(CAPITÃO) E CARLOS ALBERTO BORGES.

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